Doutorado
Patrimoniologia: lusco fusco entre hegemonia e emergências
Helena Tuler Creston
2020
Esta pesquisa pretende propor desterritorializações no campo do patrimônio cultural. Desterritorializações no sentido de tensionar esse campo por meio do pensamento rizomático – uma outra forma de pensar, com lógica e conceitos próprios. O exercício de trazer o olhar dessa Filosofia para o patrimônio cultural tem por objetivo evidenciar a “maquinaria patrimonial” que se configura, e mais: exaltar e incentivar resistências frente às políticas/práticas no âmbito do patrimônio aqui entendido como hegemônico; experimentar/criar abrangências outras de um patrimônio cultural porvir. Nesse sentido, a tese se abre, inicialmente, nesses dois pontos fragmentados, porém conectados por linhas de desterritorialização, a serem propostas.
Faço um Louvor às Resistências…. As existências que sobrevivem. São objetos de estudo que, a meu ver, trazem acontecimentos, simultaneamente lampejos e lutas diárias, que causaram rupturas e conexões. Possuem marcos temporais específicos em suas emergências, porém constituem sobrevivências importantes a serem destacadas – sobrevivências a processos territoriais hegemônicos, guiados pelo Capital. Sobrevivências que fazem uso do conceito Identidade para a garantia de seus direitos. Esse conceito, no qual se ampara discursivamente o campo do patrimônio cultural, é aqui problematizado.
A relação identidade-território, por conseguinte, é chave para as análises, guiando, inclusive, as conexões que foram se estabelecendo. Nessa perspectiva identitária, são elencados “Territórios Negros” e “Territórios Indígenas”, remontando ao “grupos formadores da Nação”, assim definidos pela Constituição de 1988, no Brasil. As resistências abordadas se insurgem na Macropolítica, porém se expandem micropoliticamente pelo direito de existir em sua potência criadora, em conformidade com o defendido pela contemporânea Suely Rolnik (2018).
Ainda na visão de Rolnik (2018), há uma complexificação nos territórios em vias de formação, cada vez mais povoados e não delimitados somente pelo caráter identitário. Um contraponto da tese, então, para além da relação identidade- território, embora reconhecendo sua devida importância, mais aprofundada e elucidada com os casos mencionados, são os aqui tratados como “territórios anônimos”.
Os Territórios Anônimos vêm para pontuar a potência da não-patrimonialização. São aqueles que também conectam, fazem parte, “são”: espacialidades nômades, ocupações populares/feministas/etc, o pixo – em parte, já cartografados em pesquisas universitárias e outros estudos. São elencadas algumas dessas outras “insurgências” para conectar, ressoar, rizomar.
A Montagem aparece como metodologia nesse dado momento, uma “forma de pensar por”. Seria possível pensar o patrimônio cultural a partir de narrativas geradas por montagens? Estariam ali os “territórios anônimos”? Quais desdobramentos essa “reapropriação da subjetividade” permite? Uma reapropriação que se coloca frente a uma produção forçada de subjetividades generalizadas e padronizadas cujos valores são guiados pelo mercado, como aborda Guattari (1992), e se observa no campo do patrimônio cultural.
Também um convite ao leitor a perceber “territórios anônimos” outros, e a criar seus próprios nexos diante das montagens apresentadas, pensando nelas como “instâncias de subjetivação coletiva”, nas palavras de Guattari (1992). Eis algumas pontas soltas pretendidas… Dá-se, por conseguinte, o caráter múltiplo ao trabalho. A tese própria como dispositivo contra o pensamento único, sem ela também o ser; um exercício de “não-síntese” da polifonia de atravessamentos.
Palavras-chave: Pensamento rizomático. Identidade. Território.
ORIENTADOR
Pasqualino Romano Magnavita