Doutorado

Entre a Tropicália e o desbunde: narrativas urbanas através de Torquato Neto

Alexandre Pajeú Moura

“Pílulas do tipo deixa-o-pau-rolar. Na mesma base: deixa.
Primeiro passo é tomar conta do espaço. Tem espaço a beça e só você sabe o que o que pode fazer do seu. Antes ocupe. Depois se vire. Não se esqueça de que você está cercado, olhe em volta e dê um rolê.”
(NETO, 2004, p. 304)

A pesquisa tem como tema principal a narração de cidade através de filmes e colunas de jornais elaborados por Torquato Neto durante as décadas de 1960 e 1970. Acreditamos que por meio da produção fílmica e jornalística desenvolvida pelo poeta nesse período, é possível se alargar a discussão sobre a condição urbana (MONGIN, 2009); não somente a partir de sua dimensão representativa, mas, sobretudo, pela possibilidade de imaginar, a partir da narração, a construção de cidades outras.

Entre movimentos, ações e significados, propomos o reconhecimento de possíveis reconstruções historiográficas das cidades brasileiras que atravessam a trajetória de Torquato Neto – a saber, Teresina, Salvador e Rio de Janeiro – a partir de sua produção artística. Acreditamos que seria possível alargar as perspectivas acerca da história cultural das cidades através destas narrativas urbanas e imagens de cidade desenvolvidas por Torquato, perfurando e desmontando, por vezes, consolidações, cristalizações e consensos. Nos interessa, portanto, a possibilidade de remontar uma outra história destas cidades e de suas transformações urbanas a partir das
narrações de Torquato Neto confrontadas pelo contemporâneo (AGAMBEN, 2009).

O enfoque na narrativa urbana existente na trajetória de Torquato Neto emerge do interesse em compreender a contracultura de maneira a deslocar o olhar de figuras já conhecidas e estudadas acerca dessa temática e buscar outras trajetórias que possam tensionar e ampliar esse momento, enfocando na história da cultura marginal no bojo do tropicalismo musical. Nesse sentido, concordamos com a proposição de Coelho (2010) em reconhecer a importância de Torquato para o desenvolvimento da ideia de contracultura, bem como a sua rede de relações naquela época, de maneira a perceber que a ideia da Tropicália não fosse algo único e absoluto em todo o país.

Se observarmos mais afundo, o movimento tropicalista mobilizou sujeitos de diversas vivências e que construíram o cerne da tropicália, porém acabaram tendo muito de sua produção renegada a um segundo plano. Nesse sentido, Jacques (2012) ressalta o caráter singular da figura de Torquato Neto dentro do movimento tropicalista, em especial com os seus escritos do tipo Manifesto. Assim, a partir do reconhecimento de uma possível fricção que atravessa a produção de imagens e a produção de cidade por meio da figura do poeta, questiona-se: Como escavar, recordar e [re] construir cidades a partir de Torquato Neto e suas práticas artísticas nos anos 1970?

Referências

AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.

COELHO, F. Eu, brasileiro, confesso minha culpa e meu pecado: cultura marginal no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

JACQUES, P. B. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, 2012.

MONGIN, O. A condição urbana. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

NETO, TORQUATO. Última Hora: Geléia Geral. In: PIRES, P. R. Torquatália: Geléia Geral. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

Palavras-chave: Torquato Neto. Contracultura. Narrativas urbanas.

ORIENTADORA

Paola Berenstein Jacques

PERÍODO

2023-atual